SÍNDROME PÓS-PÓLIO POLIOMIELITE



SÍNDROME PÓS-PÓLIO POLIOMIELITE

A Poliomielite foi um dos maiores flagelos da população de todo o mundo neste século, não apenas pelas diversas vidas abreviadas por sua causa, mas porque criou uma população de crianças e adultos jovens com sequelas e incapacidades variadas. Sua distribuição foi global, tendo apresentado epidemias de grande monta em todos os continentes independentemente do grau de desenvolvimento social e económico.

O vírus da poliomielite é de distribuição universal, não existe animal que desenvolva o quadro de infecção ou que sirva de reservatório, assim, tudo indica que o homem é seu único hospedeiro. A infecção ocorre por via oral, quando da ingestão de água ou alimentos contaminados. A transmissão é mais comum nas regiões de pior controle sanitário, estando claramente associada, nos dias de hoje, às condições sanitárias locais e ao nível sócio-económico. A vacinação em massa se mostrou como um método eficaz de erradicação da doença na América, onde a transmissão inexiste desde 1994.

A infecção aguda pelo vírus da poliomielite pode se manifestar desde quadros assintomáticos, passando por quadros gripais, intestinais, meningite asséptica e sua forma paralítica aguda. A paralisia causada pela poliomielite é, caracteristicamente, assimétrica, flácida e pode acometer centros bulbares de controle da respiração, causando insuficiência respiratória. Cerca de 1% das infecções pelo vírus resultam em quadro paralíticos agudos.

Após a instalação do quadro paralítico, a evolução da doença é para uma recuperação natural da força num período de 2 anos. O que se observa neste período é um gradativo aumento da capacidade funcional, particularmente em membros inferiores, sendo comum os pacientes que deixam de lado o uso de órteses e outros métodos de auxílio à marcha. Essa fase de recuperação é seguida de estabilidade funcional, na qual o paciente não nota ganho ou perda frente a suas incapacidades.

PÓS-PÓLIO

Desde o século passado existem relatos de pacientes com antecedentes de poliomielite que após o período de estabilidade desenvolvem nova fraqueza no membro afetado e, eventualmente naqueles membros não acometidos. Em meados dos anos 70, pacientes vitimados pela poliomielite começaram a notar que essa nova fraqueza não era uma curiosidade médica, mas sim um achado frequente e cunharam o termo Síndrome Pós-Pólio para definir esse novo conjunto de sintomas tardios da doença.

Logo após a descrição da doença, uma grande leva de pacientes com sintomas diversos começou a surgir, criando alguma confusão quanto ao que seria realmente essa nova síndrome.

A definição atual da síndrome pós-pólio inclui alguns critérios diagnósticos:

  1. quadro prévio de poliomielite

  2. período de estabilidade funcional de ao menos 15 anos

  3. nova fraqueza em membro previamente acometido ou não

  4. fadiga

  5. dor no aparelho locomotor

  6. ausência de outras doenças que expliquem a ocorrência dos sintomas

ORIGEM DA SÍNDROME

Sabe-se atualmente que a origem dessa nova fraqueza e fadiga não se devem a uma reativação viral, mas sim à uma sobrecarga dos músculos e nervos relacionados ao segmento do corpo que foi acometido pela paralisia. Assim, por exemplo, um paciente que ficou com fraqueza na coxa direita e não consegue estender seu joelho direito de forma adequada, mas continua andando sem aparelhos ou bengalas está mais propenso a desenvolver fadiga local e nova fraqueza.

A dor articular é explicada pelo desarranjo de forças musculares e sobrecarga local que ocorre em virtude de suas tentativas de compensação. O paciente pode apoiar-se sobre um membro de forma inadequada ou realizar movimentos anómalos, causando tensão nas articulações e músculos, que se tornam fontes de dor.

A fadiga é explicada pela dor, a fraqueza, tipos de personalidade e acometimento de certas estruturas do sistema nervoso central que são responsáveis pela atenção e concentração.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico desta síndrome é clínico, ou seja, não existe exame laboratorial que comprove o que o paciente tem. O médico deve tomar como base apenas os relatos do paciente de perda de força e fadiga.

TRATAMENTO

O tratamento da síndrome pós-pólio deve ser multidisciplinar. Ao médico cabe o diagnóstico da síndrome e o tratamento de doenças associadas que podem estar complicando o quadro (respiratórias, cardíacas, anemia entre outras), a prescrição de órteses, e medicamentos que possam melhorar a capacidade funcional também são da sua responsabilidade, assim como o acompanhamento da evolução do paciente.

O controle da dor pode ser realizado por uso de calor, frio, correntes elétricas e medicamentos, mas a fisioterapia incluindo exercícios físicos de alongamento é fundamental.

A terapia ocupacional, instruindo técnicas de economia de energia, é de grande valia para evitar fadiga. O condicionamento físico, seja por natação, caminhadas ou bicicleta ergométrica também aumenta a capacidade funcional do paciente.

Finalmente, é fundamental deixar claro para o paciente que uma nova estruturação de horários e tarefas diárias é necessária, com o fim de reduzir seu gasto de energia. Períodos de repouso são recomendados no meio da manhã e da tarde, e uma parada para dormir é indicada após o almoço.

O tratamento deve ser sempre complementado com outras formas de redução do gasto energético, tais como uso de bengalas e muletas, aparelhos ortopédicos e locomoção com veículos motorizados.

Observa-se que o segmento desses princípios de tratamento resulta em ganhos funcionais satisfatórios, mostrando que mesmo este efeito tardio da poliomielite pode ser compensado, quando bem estudado do ponto de vista clínico.

A síndrome pós-pólio é um exemplo de que a incapacidade adquirida não deve ser encarada nunca como algo estável e imutável. O envelhecimento e o avanço de deformidades deve ser sempre seguido por um profissional médico de reabilitação com o objetivo de antever essas complicações e tratá-las antes que surjam de forma efectiva.

Texto produzido pela DMR-Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.




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