Por que as pessoas com deficiência quase não são vistas nas ruas?



Desde a década de 80, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 10% da população de todo país, em tempo de paz, são constituídos por pessoas com algum tipo de deficiência.
Já o Censo Demográfico de 2000 apontou que 14,5% da população brasileira tem alguma deficiência, ou seja, este é um contingente formado por mais de 24 milhões de pessoas.
No entanto, as pessoas com deficiência, ainda hoje, quase não são vistas nas ruas, nos ônibus, nas escolas, nos cinemas, nos restaurantes, e raramente aparecem na televisão, na política etc. Por que isso acontece?
Basicamente, essa “invisibilidade” é o resultado de um círculo vicioso: não vemos pessoas com deficiência nas ruas porque a maioria dos ambientes não é acessível e a maioria dos ambientes não é acessível porque quase não vemos pessoas com deficiência nas ruas.
Como a escola pode se preparar para receber um aluno com deficiência?

Adaptações arquitetônicas

Para que o ambiente da escola seja acessível, é preciso que as pessoas com deficiência, inclusive aquelas que usam cadeira de rodas, possam usar o mobiliário (cadeiras, mesas, balcões, bebedouros, quadros de avisos, equipamentos etc), se movimentar por todo o edifício (entrada principal, salas de aula, sanitários, pátios, quadras, parques, bibliotecas, laboratórios, lanchonetes, etc) e pela vizinhança.
Isso significa que devemos observar também como está o lado de fora da escola. Olhe se há guias rebaixadas para pessoas em cadeira de rodas, travessia de pedestres sinalizada, semáforos sonoros para cegos, pontos de ônibus que permitam o embarque seguro e calçadas conservadas e livres de canteiros de flores, postes, caixas de correio, orelhões e bancas de jornal mal posicionados. Muitas vezes nem percebemos, mas estes obstáculos podem representar uma verdadeira “olimpíada” para as pessoas com deficiência.
É claro que isto é o ideal e nossa realidade está muito longe de atingi-lo. No entanto, não significa que você deve desistir de buscar o que for o possível para seu aluno. Até porque, num ambiente onde pessoas em cadeiras de rodas ou pessoas cegas e surdas circulam de maneira autônoma e segura, TODOS se beneficiam porque se locomovem com menos esforço e mais conforto.
Basicamente, o acesso pode ser facilitado com:

• portas e corredores mais largos (de 80 cm);
• construção de rampas com a inclinação adequada (segundo as Normas da ABNT), com corrimãos e mureta para impedir que a cadeira caia;
• elevadores, quando for possível;
• sanitários que permitam entrar e fazer a volta com a cadeira de rodas; com vaso sanitário da altura da cadeira de rodas; com pias que permitam o encaixe da cadeira de rodas e manuseio confortável da torneira; com a porta sem mola que abre para fora e com indicação de feminino e masculino de cor contrastante, de fácil reconhecimento e com tamanho bem visível;
• pisos antiderrapantes.

Biblioteca escolar ou sala de leitura

As bibliotecas são verdadeiros portais para o conhecimento e para a aventura. Para que elas sejam também acessíveis às pessoas com deficiência, é preciso que tenham:
• acesso físico sem desnível ou catracas;
• mesas onde se encaixam cadeiras de rodas;
• acesso virtual (via computador e Internet);
• acervo em braile, fitas cassete e CD-ROM;
• serviço de orientação estimu¬lante e adequado às necessidades dos diversos tipos de usuários;
• prazo prolongado para devolução;
• cartões de autorização para que terceiros retirem e devolvam livros;
• assistentes para acesso ao acervo;
• assistentes para leitura (ledores de livros para cegos);
• lupas ou lentes de aumento;
• intérprete de Língua Brasileira e Portuguesa de Sinais;
• salas de vídeo com televisores com sistema de legendas ocultas para seus usuários surdos. A maioria dos novos modelos de TV já sai de fábrica com esse dispositivo de acionamento opcional chamado “closed caption”, através do qual tudo o que é dito aparece legendado na tela. Porém, ainda não são todas as emissoras de TV que oferecem o serviço de legendagem em sua programação.
Sabemos que muitas escolas infelizmente não têm bibliotecas ou salas de leitura, mas outras têm. É importante que você, professor, fique atento sobre a importância que a leitura tem para a criança com deficiência e, sempre que possível, estimule a comunidade escolar, a Associação de Pais e Mestres ou a Biblioteca Pública de sua cidade a se adaptar para acolher a criança e o jovem com deficiência.
A comunicação visual existente nas escolas deve ser compreendida por pessoas com todos os tipos de deficiência. Os quadros de avisos e placas de sinalização e orientação de usuários devem ter textos curtos, com letras grandes, acompanhados de símbolos e devem ser colocados no nível dos olhos de uma pessoa em cadeira de rodas. Devem ser instalados sinais de alerta com luz para avisar aos usuários surdos de eventuais emergências.

Parques infantis acessíveis a todas as crianças

Não deve haver barreiras arquitetônicas que possam dificultar o acesso de alunos usuários de cadeiras de rodas ou com locomoção reduzida (degraus, areia fofa em todo o solo, desníveis de um brinquedo para outro, etc.). O ideal é que todos os brinquedos sejam acessíveis a todas as crianças; no entanto, existem poucos brinquedos desse tipo no mercado[6]. Uma maneira de contornar esse problema é capacitar pessoas para ajudar crianças com deficiência a usarem com segurança os brinquedos existentes.
[6]Há empresas no Brasil que têm brinquedos próprios para crianças com deficiência. Se quiser informações, faça uma busca na Internet ou escreva para a Rede SACI.
Mobiliário escolar para todos
A fabricação de assentos e mesas escolares no Brasil segue a Norma Técnica NBR 14007(1997), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No entanto, essas mesas e cadeiras escolares não consideram a existência de estudantes com deficiência. Sendo assim, algumas adaptações são necessárias para facilitar o uso por alunos com deficiência:
Mesas para usuários de cadeira de rodas: devem ser mais altas para o encaixe da cadeira de rodas.
Apoio para os pés: É importante o aluno ter apoio para os pés quando estiver sentado, para garantir um bom posicionamento e não escorregar da cadeira. Um caixote que mantenha um ângulo de 90º de flexão no quadril e nos joelhos pode ser a solução.
Cadeiras: pode-se serrar ou aumentar a altura das pernas das cadeiras, para que fiquem de acordo com a altura da criança. Encostos e assentos adicionais, como almofadas, podem ser combina¬dos, se necessário, com apoio de pés. Podem ser colocados cintos que facilitem a posição ereta ou evitem que o aluno escorregue ou caia para os lados. Estes cintos podem ser horizontais, em X e/ou que saiam dentre as pernas, para manter o quadril posicionado.
Armários : as prateleiras mais baixas devem ser reservadas para os alunos em cadeira de rodas.
Pátios: devem estar livres de degraus e demais obstáculos à circulação de pessoas em cadeira de rodas. O corredor de acesso, se houver, deve respeitar a largura de uma cadeira de rodas para facilitar a mobilidade e evitar acidentes.
Banheiros acessíveis: Não existem especificações para a construção e adaptação de banheiros infantis no Brasil. Mas alguns critérios da NBR 9050[7] podem ser adotados nos banheiros escolares infantis, tais como: largura de portas, tipos de maçanetas, puxadores e torneiras, tipos de espelhos, local e tipo de pia, tamanho do box acessível etc.

[7]http://www.abnt.org.br.

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