Onde está a deficiência, enfim?





Onde está a deficiência, enfim?

"...Esses espíritos sofrem pelo constrangimento que experimentam e pela impossibilidade em que se encontram de se manifestarem por meio de órgãos não desenvolvidos ou desarranjados." (L.E. - q. 372)

"...Essa a razão pela qual as grandes obras de engenharia, em sua feição beneficiária, apesar de materiais, possuem elevada significação pela extensão de sua utilidade ao espírito coletivo." (O Consolador. - q. 93)

Consultando as páginas de qualquer Dicionário de Língua Portuguesa, vamos encontrar o conceito de deficiência como sendo: falta, insuficiência, imperfeição.

Ao ouvirmos tal palavra, somos, invariavelmente, levados a pensar sobre aqueles que trazem restrições de natureza física, oriundas, naturalmente, dos compromissos assumidos em sua programação existencial ou reencarnatória e, automaticamente, nos vêm sentimentos os mais diversos quanto contraditórios, desde a piedade pela situação até a mais completa indignação com o descaso das "autoridades" políticas da nossa cidade ou País.

Em momento algum _ com raras exceções - ocorre-nos que nós, cidadãos comuns, espíritas, poderíamos dar a nossa parcela de contribuição, no sentido de minimizar ou aliviar a provação desses, propondo ou criando meios para reduzir-lhes os empecilhos da marcha.

De uma maneira geral, quais seriam os desejos daqueles que se vêem na situação da limitação física, perguntamos ? Responderão muitos: seguramente, o respeito da sociedade e das Instituições; a liberdade para poderem deslocar-se e integrar-se com facilidade; a autonomia, sobretudo, para escolherem aonde ir e chegar até lá, sem constrangimento, além dos que possuem consigo.

Argumentaremos, ainda, outros, que nada podemos fazer, além de cobrar medidas urgentes dos nossos administradores.

Ora, amigos ! Basta lancemos um olhar sobre as nossas Instituições, notadamente, aquelas das quais participamos e nas quais investimos os nossos melhores esforços, no sentido de dar todas as condições de conforto espiritual e material para os que das suas instalações usufruem.

O detalhe, entretanto, é que, pouquíssimas vezes imaginamos que uma pessoa com deficiência física possa procurar por uma Casa Espírita, a fim de ali, também, encontrar aquilo que já encontramos.

Quantos são os que nessa situação participam de nosso Grupo ? Será que não há nenhum espírita ou pretendente que esteja nesta posição ? Será que o Espiritismo e o Centro Espírita são para eles, igualmente ?

A população de indivíduos com deficiências (sem contar gestante e idosos, que igualmente têm as suas limitações) é significativa . E se pararmos para pensar, além disso, que a Doutrina Espírita, por seu caráter consolador é, por si só, um "atrativo" para essas almas, vamos ter entre nós muitos desses companheiros buscando as nossas Casas. Se a isso somarmos gestantes, idosos, crianças até, este volume vai aumentar mais ainda.

Mas, alegremo-nos, as soluções não são, de uma maneira geral, difíceis e estão ao alcance de freqüentadores, trabalhadores e diretoria dos Núcleos Espiritistas.

Verifiquemos, reflitamos sobre quantos são os obstáculos físicos que uma pessoa nestas circunstâncias deverá enfrentar, até que chegue ao local desejado na nossa Casa. Vejamos, à guisa de ilustração, como poderíamos começar a colaborar, efetivamente, e a dar a nossa quota de exemplificação, no que se refere à integração e promoção sociais:

* estudar, junto à Prefeitura local, possibilidade de reservar vaga de automóvel para deficiente no estacionamento público (o da rua). Porém, se o Centro tem estacionamento próprio, destinar uma ou mais vagas para deficientes; preferencialmente próximas às portas de acesso;
* eliminar os desníveis do meio fio, através do rebaixamento das guias, respeitando-se a inclinação de 8% (aproximadamente 5 graus; uma rampa bem suave, portanto);
* criar rampas - suprimindo degraus _ a partir de 2m para dentro do alinhamento predial, incluindo-se as portas de acesso externas e as internas (é proibido fazê-lo no passeio público, pois, com isso, estaríamos gerando outros degraus transversais para quem por ele transitasse). Essas rampas não devem ter inclinação superior a 8%, ou seja, para cada metro horizontal, subir 8cm na vertical;
* alargar as portas internas, permitindo-se, por exemplo, que por elas passe cadeira de rodas, além dos braços daquele que a movimenta;
* prever espaço em auditórios e salas de trabalho para posicionamento de cadeira de rodas ou similares. Percebam que isso também pode servir para carrinhos de bebês;
* facilitar deslocamento interno _ largura de corredores e tipo de piso adequados e seguros para tráfego de pessoas com limitações físicas;
* instalar duchas higiênicas e barras de apoio nos banheiros. Há muitos produtos no mercado.

Há Legislação específica que trata dos direitos, além dos parâmetros construtivos para deficiências físicas. Vamos cogitar, por nossa vez, sobre alguns destes pontos.

Enfim, reunamos os colaboradores e os usuários do nosso Grupo, a fim de estudar, em conjunto, soluções práticas e exeqüíveis para, de toda maneira, estimular a participação, a integração e valorizar essas potencialidades que jazem tolhidas, muitas vezes até, pela impossibilidade de participarem das atividades do Centro Espírita.

E, voltando à questão inicial, podemos dizer que a deficiência, realmente, está em nós mesmos, nas imperfeições das nossas edificações, na insuficiência de equipamentos e recursos das instituições, que não atendem a estas questões de significativa importância.

É hora de começarmos a perceber que podemos contribuir ainda mais do que já o fazemos, começando por melhorar estes pequenos aspectos, transformando o nosso ambiente de labor espírita em lugar acessível, de fato, a todos quantos o procuram para, ali, receber e dar devida atenção e apoio.


Márcio da Cruz Santos

(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 2000)

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