Alzheimer: doença silenciosa
Sinais de alerta: alterações de memória e personalidade
Alterações de memória e de personalidade, dificuldade em se comunicar ou executar simples tarefas, como pentear os cabelos ou vestir uma camisa com botões, são sintomas que ajudam a identificar o problema que atinge os idosos. Estima-se que cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo sejam portadoras da doença de Alzheimer. No Brasil esse número pode chegar a 1,2 milhão - 10% com idade acima dos 65 anos. De acordo com pesquisa da Alzheimer's Disease Internacional (ADI), a cada sete segundos é diagnosticado um novo caso. A doença, degenerativa, acomete o sistema nervoso central e atinge regiões responsáveis por memória e por outras funções cognitivas. Não há cura. O paciente morre entre oito e doze anos.
Alzheimer é silenciosa. Para médicos, o grande foco actualmente é o diagnóstico precoce. "Hoje em dia a busca pelo diagnóstico precoce é a condição mais importante quando se tem o que fazer pelo paciente. A doença não tem cura, mas temos alguns medicamentos que ajudam o paciente. Quanto mais precoce, maior a chance de o remédio ter ação "para este paciente", explica o neurologista Renato Anghinah, do grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo.
Personalidade - Os principais sintomas, que devem servir de alerta para o paciente e familiares, são as alterações de memória e de personalidade, dificuldade em se comunicar ou executar simples tarefas, como pentear os cabelos e vestir uma calça ou camisa com botões. O principal factor de risco é a idade. Quanto mais a pessoa viver, maior o risco de desenvolver o problema. Até os 60 anos, a incidência é de 1,5 pessoa a cada 2000. Dos anos 60 aos 70 anos, sobe de uma a cada 50 pessoas. Entre 70 e 80 anos, a chance de ter este mal sobe para uma a cada dez pessoas. E dos 80 aos 85 anos, fica maior: uma em quatro pessoas.
O neurologista do HC alerta que no últimos anos o comprometimento cognitivo leve poderia ser uma fase pré-clínica da doença. Ele explica que não chega a ser um quadro de demência do doente e também não significa que vai se transformar em doença de Alzheimer. "Mas esta pessoa terá uma taxa quatro vezes maior de evoluir para a doença. E não há indicação de tratar paciente com medicação, o que precisa ser observado. Se apresentar os sinais de Alzheimer, podemos iniciar o tratamento precocemente", diz Anghinah.
O diagnóstico da doença é clínico, ou seja, feito dentro de consultório e não com exames em aparelhos. Segundo o neurologista do HC, as queixas de memória - um dos sinais da doença - não são o suficientes para confirmar um quadro de Alzheimer. "Muitas vezes, o problema da memória pode estar relacionado à sobrecarga emocional, stress no trabalho, falta de sono e medicamentos", compara Anghinah.
É por esta razão que o diagnóstico acontece, na maioria das vezes, quando a doença chegou à fase moderada. Neste estágio, além da falta de memória, o doente não consegue executar tarefas simples como montar um o sanduíche, esquece onde guardou alguns objectos e perde a noção para se vestir - chega a inverter a ordem de pôr as peças de roupa, como colocar a peça de baixo por cima da calça.
Para a neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Bertolucci, o diagnóstico tardio ocorre por culpa tanto da população quanto dos profissionais. "Os médicos precisam de mais preparo já que o diagnóstico é clínico. Se fizessem um teste rápido de memória no paciente faria muita diferença. Já a população tem uma parcela de culpa por ainda acreditar que a falta de memória se trata de apenas um processo normal de envelhecimento", avalia Bertolucci. A morte do paciente ocorre quando todo o cérebro é atingido pela doença.
DOENÇA DE ALZHEIMER - Entenda cada fase da doença.
Fase inicial - começa a afectar a memória. A pessoa lembra de coisas do passado, mas não se recorda do que ocorreu de manhã. À noite, por exemplo, não consegue lembrar o que almoçou. Assim, torna-se uma pessoa repetitiva.
Fase moderada - Nesta fase, já começa a ter prejuízos para conseguir se alimentar, executar tarefas simples (montar sanduíches com frios), dificuldades em manter a higiene. A pessoa perde noção para se vestir e não consegue enfiar a mão na manga da camisa, por exemplo. Pode trocar o dia pela noite. Perambula pela casa.
Fase avançada - O esquecimento está cada vez mais intenso. Nesta fase já precisa de alimentação assistida porque não consegue mais comer sozinha. Também não consegue tomar banho, nem se vestir sozinho e não mantém sua higiene pessoal. Começa a usar fraldas por não conseguir controlar seus instintos. Não fala mais. Tem gente que não dorme nem de dia e nem à noite.
Fase terminal - O paciente está na cama. Só geme e fica na postura fetal.:
- A partir dos 60 anos, queixas de memória não podem ser desprezadas. É bom consultar o médico para verificar.
- Nem toda queixa de memória, por outro lado, significa Doença de Alzheimer. Se uma em quatro pessoas tem a doença a partir dos 80 anos, lembre-se que três não a terão.
Remédios retardam evolução - Os medicamentos inibidos ajudam, por um período de seis meses a 18 meses, a retardar a progressão da doença. "Têm efeitos por algum tempo. Depois, a resposta é perdida. É algo provisório", afirma Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp.
"Galantamina, rivastigmina e donepzil recebem indicação para a fase inicial da doença. O paciente fica estável por até um ano e meio, mas os neurónios continuam morrendo. Claro que a progressão da doença é mais lenta do que se a pessoa estivesse sem remédio. Há dois anos, a memantina é associada a um dos inibidores a partir da fase moderada da doença", descreve o neurologista do Hospital das Clínicas, Renato Anghinah.
No Brasil, o laboratório farmacêutico Janssem- Cilag, lançou o Reminyl ( galantamina ), um medicamento de ação prolongada para o tratamento da doença de Alzheimer em estágios leve e moderado. O medicamento tem somente uma dosagem diária, com acção prolongada.
Efeitos - Estudos clínico com Reminyl envolvendo 971 pacientes mostrou que os portadores tiveram melhoras significativas. Entre os benefícios apresentados pelo medicamento podem se destacar: retardo dos sintomas neuropsiquiátricos, manutenção da capacidade funcional e diária em até um ano, menos efeitos colaterais.
Jaqueline Falcão (para o Diário de São Paulo
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