A Esclerose Múltipla (EM) afecta mais de um milhão de pessoas em todo o mundo. Os estudos epidemiológicos apontam para a existência de 450.000 pessoas com Esclerose Múltipla só na Europa, sendo a incidência maior nos países nórdicos. Estima-se que o número de doentes em Portugal seja da ordem dos 5000. O que é a Esclerose Múltipla? A Esclerose Múltipla é uma doença inflamatória crónica, desmielinizante e degenerativa, do sistema nervoso central que interfere com a capacidade do mesmo em controlar funções como a visão, a locomoção, e o equilíbrio, entre outras. Denomina-se Esclerose pelo facto de, em resultado da doença, se formar um tecido parecido com uma cicatriz, que endurece, formando uma placa em algumas áreas do cérebro e medula espinal. Denomina-se Múltipla, porque várias áreas dispersas do cérebro e medula espinal são afectadas. Os sintomas podem ser leves ou severos, e aparecem e desaparecem, total ou parcialmente, de maneira imprevisível. É desmielinizante porque há caracteristicamente lesão das bainhas de mielina que envolvem as fibras nervosas, como se refere adiante. É degenerativa porque surge também lesão da própria fibra nervosa, por vezes irreversível. Doença do Sistema Nervoso Central O Sistema Nervoso Central, é constituído pelo cérebro e pela medula espinal, e funciona como uma "central de comandos", isto é, actua como um quadro de distribuição, enviando mensagens eléctricas e químicas através dos nervos para as diversas partes do corpo. Estas mensagens controlam todas as funções, em particular os movimentos, conscientes e inconscientes do nosso corpo. A comunicação ocorre através de impulsos nervosos - sinais eléctricos conduzidos ao longo dos nervos. Sistema Nervoso Periférico Para além do Sistema Nervoso Central, existe também o Sistema Nervoso Periférico, composto pelos nervos distribuídos pelo corpo, os quais podem ser de dois tipos, os nervos sensitivos e os nervos motores. Os nervos sensitivos conduzem as informações da periferia para o Sistema Nervoso Central, por exemplo acerca do que se vê, ouve, cheira, sente e saboreia. Os nervos motores transportam os sinais de comando do Sistema Nervoso Central aos músculos, para o controlo do movimento e das funções corporais em geral, como a frequência cardíaca, respiração, digestão, produção de suor. Quando se segura numa folha e se inicia a sua leitura, o Sistema Nervoso Central realiza várias funções. Por exemplo, envia sinais de comando sobre o modo como os seus braços devem segurar na folha e interpreta a informação proveniente dos seus olhos à medida que lê. |
Classicamente podemos considerar a existência de três grandes tipos de Esclerose Múltipla: Esclerose Múltipla Surto/Remissão (Recorrente Remissiva) A forma mais comum de Esclerose Múltipla em doentes com idade inferior a 40 anos é a Esclerose Múltipla por surtos e remissões, que ocorre em 60% dos casos. Os doentes sofrem "ataques" - também denominados surtos ou exacerbações - seguidos por períodos de remissão com recuperação completa ou quase completa. Chama-se surto a ocorrência aguda de sintomas indicando atingimento do Sistema Nervoso Central, com a duração de pelo menos 24 horas. O tipo de sintomas é muito vasto, porque depende da parte do Sistema Nervoso afectado. Podem ser leves e desaparecerem sem tratamento, mas geralmente é necessário tratar com corticoesteroides injectáveis. Os surtos podem ocorrer separados por semanas, meses, ou mesmo anos, sem acumulação de incapacidade, mas com o passar do tempo podem tornar-se mais numerosos e intensos. Esta forma não é muito debilitante, apesar de os doentes poderem entrar mais tarde numa fase progressiva. Esclerose Múltipla Secundariamente Progressiva Este tipo de Esclerose Múltipla resulta da evolução da forma anterior Surto/Remissão, por isso se chama secundariamente progressiva (cerca de 25% de todos os casos). Nesta fase, os doentes continuam a ter surtos mas a recuperação torna-se incompleta, originando uma deterioração progressiva da condição física ao longo do tempo. A continuação da progressão ocorre independentemente dos surtos e a incapacidade global aumenta gradualmente com o tempo, apesar de a velocidade de progressão da doença ser imprevisível. Esclerose Múltipla Primariamente Progressiva Os doentes cuja incapacidade se agrava continuamente sem surtos, remissão ou recuperação, sofrem de Esclerose Múltipla primariamente progressiva. Esta forma é comum em doentes que sofreram os seus primeiros sintomas após os 40 anos de idade (cerca de 15% dos doentes com Esclerose Múltipla). É a forma mais incapacitante da doença e mais problemática quanto ao tratamento. |
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Se existirem lesões no Sistema Nervoso Central, seja por doença
ou traumatismo, a localização da lesão determina a natureza
dos sintomas resultantes. Os sintomas aparecem devido à
interrupção da condução dos impulsos nervosos entre o
Sistema Nervoso Central e o resto do corpo. Por exemplo, lesões no cérebro podem provocar:
De lesões da espinal-medula pode resultar, por exemplo:
As lesões do nervo óptico, que estabelece a ligação entre os olhos e o cérebro, provocam com frequência visão turva e perda da percepção das cores. |
Qual o tratamento para a Esclerose Múltipla?
O tratamento adequado para a Esclerose Múltipla começa por manter um bom estado de saúde geral, prosseguir uma vida activa, uma alimentação equilibrada, repouso suficiente, de modo a sentir-se bem, mantendo a forma física e psíquica.
É também fundamental um programa de exercícios e ginástica muscular, na medida em que, ajuda os doentes a recuperarem dos surtos e a diminuir a tensão muscular. Exercícios de treino do equilíbrio, podem ajudar os doentes a tornarem-se mais auto-confiantes.
Em virtude da evolução da Esclerose Múltipla ser imprevisível as necessidades e as capacidades variam, assim uma reavaliação médica periódica é fundamental. Os medicamentos são também imprescindíveis, nomeadamente os relaxantes musculares, pois permitem reduzir a tensão dos músculos e melhorar os movimentos. Nos últimos anos utilizam-se diversos fármacos que actuam no sistema imunitário, chamados imunomoduladores, como os Interferões-beta e o acetato de glatiramero, entre outros, que ajudam a modificar a alteração da doença.
Para além das consequências e limitações a nível físico, inerentes à doença, são também muitas as psicológicas, para o doente e consequentemente, para o cuidador, depressões e ansiedade são as mais frequentes. O grau de dependência que a Esclerose Múltipla desencadeia, assim como as mudanças comportamentais da doença, são factores que esgotam bastante os familiares e cuidadores do doente de Esclerose Múltipla, levando muitas vezes a situações de solidão absoluta. De registar que a taxa de divórcios em famílias em que um dos cônjuges é doente é bastante elevada. Neste sentido a psicoterapia individual e de grupo, assim como o aconselhamento, ajudam bastante para enfrentar todas as limitações causadas pela doença.
O tratamento adequado para a Esclerose Múltipla começa por manter um bom estado de saúde geral, prosseguir uma vida activa, uma alimentação equilibrada, repouso suficiente, de modo a sentir-se bem, mantendo a forma física e psíquica.
É também fundamental um programa de exercícios e ginástica muscular, na medida em que, ajuda os doentes a recuperarem dos surtos e a diminuir a tensão muscular. Exercícios de treino do equilíbrio, podem ajudar os doentes a tornarem-se mais auto-confiantes.
Em virtude da evolução da Esclerose Múltipla ser imprevisível as necessidades e as capacidades variam, assim uma reavaliação médica periódica é fundamental. Os medicamentos são também imprescindíveis, nomeadamente os relaxantes musculares, pois permitem reduzir a tensão dos músculos e melhorar os movimentos. Nos últimos anos utilizam-se diversos fármacos que actuam no sistema imunitário, chamados imunomoduladores, como os Interferões-beta e o acetato de glatiramero, entre outros, que ajudam a modificar a alteração da doença.
Para além das consequências e limitações a nível físico, inerentes à doença, são também muitas as psicológicas, para o doente e consequentemente, para o cuidador, depressões e ansiedade são as mais frequentes. O grau de dependência que a Esclerose Múltipla desencadeia, assim como as mudanças comportamentais da doença, são factores que esgotam bastante os familiares e cuidadores do doente de Esclerose Múltipla, levando muitas vezes a situações de solidão absoluta. De registar que a taxa de divórcios em famílias em que um dos cônjuges é doente é bastante elevada. Neste sentido a psicoterapia individual e de grupo, assim como o aconselhamento, ajudam bastante para enfrentar todas as limitações causadas pela doença.
A Esclerose Múltipla continua a ser um dos mistérios da medicina, não é uma doença evitável ou curável, embora neste momento já existam medicamentos que, apesar de não curarem, modificam de forma benéfica a sua evolução.
No entanto, a ciência assenta em algumas teorias que tentam explicar quais as origens desta doença. Para muitos é considerada uma doença auto-imune. O nosso organismo tem um sistema de defesa - sistema imunitário - que destrói os vírus e as bactérias, e se este sistema se "engana e começa a atacar as células do próprio corpo surge um fenómeno chamado reacção auto-imune. Neste caso, a lesão da mielina surge por haver produção de auto-anticorpos que a atacam.
Outros defendem que a Esclerose Múltipla é determinada por factores ambientais e genéticos, na medida em que, é uma doença mais frequente nos países com clima temperado e fresco do que nos países de clima quente, e afecta em especial as pessoas de raça branca.
Existe ainda a teoria de que a Esclerose Múltipla seja causada por vírus, mais propriamente por algum tipo de doença vírica contraída na infância.
Há pessoas mais susceptíveis de adquirir a doença do que outras?
Há um padrão de pessoas susceptíveis de contrair a Esclerose Múltipla, nomeadamente os adultos jovens, uma vez que os sintomas são habitualmente mais evidentes entre os 20 e os 40 anos de idade. A Esclerose Múltipla ocorre poucas vezes em pessoas com menos de 15 e com mais de 50 anos de idade, sendo mais frequente nas mulheres do que nos homens.
A importância da Mielina
As células nervosas possuem vários prolongamentos dos quais um deles, chamado "axónio", é uma fibra longa, fina e flexível que transmite impulsos nervosos. Estes impulsos são sinais eléctricos conduzidos ao longo do comprimento do nervo. As fibras nervosas são longas, de forma a permitir que os impulsos sejam conduzidos entre partes distantes do corpo, como a medula espinal e os músculos.
A maioria das fibras nervosas está envolvida por uma bainha isolante constituída por gorduras, denominada mielina, a qual actua de forma a acelerar a condução dos impulsos. A bainha de mielina contém interrupções chamadas "nós" de "Ranvier". Ao saltar de "nó" em "nó", a condução do impulso torna-se muito mais rápida do que se tivesse de ser efectuada ao longo de todo o comprimento da fibra nervosa. Os nervos mielinizados podem transmitir um sinal a velocidades tão elevadas como 100 metros por segundo - tão rápido quanto um carro de Fórmula 1.
A perda de bainha de mielina que envolve o nervo origina vários sintomas, porque a transmissão dos impulsos nervosos é atrasada ou bloqueada, uma vez que tem agora de ser efectuada continuamente ao longo de toda a fibra nervosa. Uma área onde a mielina foi destruída é denominada lesão ou placa.
Este atraso de condução nervosa e o "curto-circuito" dos impulsos nervosos provocados pelas lesões, originam vários sintomas relacionados com a actividade do sistema nervoso.
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