1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
2. OBJETIVOS DO SERVIÇO
2.1 Objetivos
- Oferecer um ambiente seguro, ético, com orientação técnica e religiosa, como base de sustentação no tratamento para dependência química, do gênero masculino de 18 a 65 anos;
- Recuperar o sujeito, de maneira que este venha a se restabelecer na sociedade com novos hábitos de forma à proporcionar a valorização à vida;
- Contribuir na prevenção da adicção, primando pelo método do convencimento e da conscientização, ofertando assistência para a comunidade;
- Investir na genuína e efetiva recuperação pessoal do residente, considerando aspectos particulares de acordo com o Plano Terapêutico Individualizado;
- Oferecer acompanhamento psicológico e de Serviço Social aos dependentes e seus familiares de modo que os residentes da Comunidade Terapêutica possam ser ouvidos, orientados e fortalecidos para que sejam acompanhados e reinseridos socialmente após o tratamento.
2.2 Missão
Promover a transformação do indivíduo através da mudança de estilo de vida, levando-o a vencer suas próprias dificuldades e fazendo-o sentir-se parte de algo maior que a própria individualidade, o que possibilitará seu crescimento pessoal.
2.3 Valores
Um mundo sem drogas, com qualidade e valorização à vida.
3. DIRETRIZES DOS SERVIÇOS
3.1 Recepção
A Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier presta serviço de atenção à dependentes de substâncias psicoativas (SPAs). Neste espaço a acolhida na comunidade inicia-se desde o primeiro momento em que a família e o dependente químico e/ou etílico chegam para procurar o tratamento. A escuta sensível é o principal instrumento da acolhida. Significa, num primeiro momento, acolher todas as queixas e relatos do usuário e de sua família, pois, em geral, a chegada na comunidade, em especial para o dependente, é um momento delicado, em que este se depara diante de uma escolha – de dar início a uma nova etapa de vida.
Os dados iniciais obtidos na acolhida são fundamentais para o diagnóstico e o prognóstico para o planejamento do tratamento, que irão também nortear e contribuir para a construção de seu Plano Terapêutico Individual e coletivo (grupos focais). Tanto os dados informados pelo futuro residente, quanto àqueles dados que são passados pelos familiares ao (à) profissional/equipe que o acolhe são indicadores e definem uma caminhada que se inicia a partir deste momento – da chegada.
Entende-se que, se a acolhida de fato não for consistente e calorosa, o dependente pode não avistar razão para manter a decisão de ingressar no tratamento. Então, a acolhida trata-se de um instrumento de suma relevância e que exige técnica de argumentação e conscientização, associadas à experiência, que vai direcionar a acolhida para um processo de convencimento saudável à família e em especial ao adicto.
Para o atendimento ao futuro residente, entendemos ser essencial contar com as intervenções de profissionais experientes na recuperação/manejo na matéria de dependência de substâncias psicoativas. Na Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier, a acolhida inicial é realizada por um dos coordenadores, diante da experiência argumentativa nesta matéria, associando a intervenção de um dos profissionais da equipe para elucidar pontos que no decorrer do processo de recuperação poderão ser mediados.
Por fim, é o momento em que se faz uma abordagem especializada, tendo em vista a soma de recursos psicossociais dos membros da equipe para um processo de acolhida ao residente e demonstração dos benefícios em aderir ao tratamento.
Entendemos que é positivo, desde o ingresso do residente, associar intervenções de outros profissionais da comunidade a fim de somar em argumentos e melhor elucidar a metodologia do trabalho e as consequências positivas no decorrer do tratamento. Entendemos, ainda, que mais do que ouvir, acolher é ajudar o dependente a reconstruir desde este primeiro momento (e respeitar) os motivos que ocasionaram o seu adoecimento e as correlações que vêm estabelecendo em sua vida, recebendo com ele também a família e/ou sua história e rede de pertencimento.
As relações sociais positivas e também os desafetos em geral influenciam na tomada da decisão ao tratamento. Em seguida, decidido pelo ingresso ao tratamento, o residente é apresentado à comunidade, às normas, ao funcionamento, à metodologia de trabalho e instalações, etc., e é dado início à construção do Plano Terapêutico Individualizado, elaborando-se o prontuário individualizado deste residente.
O Plano Terapêutico Individualizado (PTI) é construído em equipe, considerando aspectos fundamentais previstos na Portaria 430/2008, a qual regulamenta a prestação de serviços de atenção a dependentes de substâncias psicoativas. Com isso, as demandas apresentadas desde a acolhida inicial vão colaborar para que este PTI seja elaborado em equipe, reunindo intervenções dos profissionais que forem necessários. Dessa forma, pode haver o envolvimento de todas as áreas na elaboração do PTI juntamente com o coordenador terapêutico –Assistente Social e Psicologa, – considerando as dimensões relacionadas na Portaria 430/2008, e outras que se compreenderem necessárias e se apresentarem particulares a cada situação .
3.2 Vínculo
É inerente aos seres humanos, estejam estes na condição de profissionais ou adictos, em pares ou coletivamente, transferir afeto. Um residente pode associar um profissional com uma possibilidade de superação maior, enquanto que para outro este profissional pode não ser sentido como o mais solícito. Consideramos inclusive, na equipe, o pressuposto de que um profissional que tem uma história pregressa ou familiar de relação com a dependência química ou etílica não vai sentir-se da mesma forma ao cuidar de um sujeito dependente que um profissional que não tem este vínculo afetivo e/ou experienciado, podendo vir a somar ou não quanto à identificação.
Neste sentido, percebemos que é necessário aprender a prestar atenção nesses fluxos de afeto para melhor compreender-se e compreender o outro. E aceitando esta singularidade, torna-se mais fácil para a equipe poder ajudar o residente a ganhar mais autonomia para estabelecer vínculos profissionais saudáveis, pois não existem assim alianças negativas, e sim, trocas mútuas de compreensão, afeto e jeitos de fazer de maneira profissional.
Nesse processo, a coesão da equipe técnica composta por profissionais graduados, coordenadores e monitores especializados é muito importante, porque os fluxos de afeto de cada membro da equipe com o residente e familiares são diferentes, permitindo que as possibilidades de ajudar o sujeito em tratamento sejam maiores.
Este olhar é fundamental para que se identifiquem fragilidades específicas em determinados casos, que deverão ser estudadas e acompanhadas pela equipe de maneira mútua. Isso porque, havendo este consenso de que o vínculo é fundamental e que deve ser livre, dentro da própria equipe de trabalho estas transferências também acontecem, uma vez que os monitores e coordenadores especializados possuem vivências e os profissionais, além da compreensão das demandas, a instrumentalidade para intervir.
Ao partilhar experiências e dificuldades entre equipe, entende-se que há o crescimento enquanto sujeito pessoal e profissional, o que resulta na eficácia do trabalho prestado ao residente. Dessa forma, além de preocupar-se com o estabelecimento e cuidado quanto ao vínculo do residente com a comunidade e com os profissionais, há também a busca pela manutenção da ética e do respeito na equipe, na qual a ferramenta fundamental é a comunicação.
3.3 Responsabilidade
A responsabilidade, enquanto diretriz de atendimento, se constitui em três sentidos:
§ a responsabilidade quanto ao serviço prestado;
§ a responsabilidade da família do residente quanto ao envolvimento no tratamento;
§ a responsabilidade do residente quanto à qualidade e empenho ao tratamento.
Quanto a este, existe um tripé que acompanha o residente desde seu ingresso na comunidade, o qual ele tem por responsabilidade seguir, assim como a equipe de trabalho tem por encargo permanentemente salientar.
São eixos que embasam o trabalho dos profissionais e dão alicerce à transformação da qualidade de vida do adicto, na superação do sistema de vida em que inicialmente se encontra. Este tripé compreende a ESPIRITUALIDADE, o TRABALHO e a DISCIPLINA.
Quanto à espiritualidade, por se tratar de uma entidade Espírita, as diferentes crenças e dogmas são respeitados, pois esta doutrina tem por princípio ético o respeito às diferenças. Deste modo, primou-se pela orientação baseada em palestras auto-ajuda as quais possibilitem o despertar da religiosidade (seja ela qual for), estas palestras são realizadas de forma voluntária por 20 palestrantes espíritas de segundas a sextas-feiras, às 19 horas. Esta responsabilidade pela espiritualidade se materializa através de explanações sobre valores morais cristãos, meditações, leituras edificantes e leituras do Evangelho e/ou Bíblia, reflexões, preces, cantos harmonizadores periódicos, e outras atividades em que se percebe estabilidade emocional.
Já a disciplina, enquanto um dos eixos desse tripé traz a idéia de que externamente na sociedade existe a necessidade de respeito hierárquico e estabelecimento de limites. Assim, a disciplina se materializa por um cronograma de atividades de laborterapia, terapia ocupacional, grupos e esportes, bem como por medidas reeducativas de acordo com o grau da falta cometida, primando pela serenidade em analisar as mesmas.
Parte do processo terapêutico da Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier acontece a partir da laborterapia, que contribui tanto para o processo de desintoxicação quanto para a descoberta de aptidões. Definido por setores, ocorrem rodízios a fim de que todos os residentes possam experienciar todas as atividades.
Semanalmente estas atividades são repensadas pela equipe de monitores. Quanto ao serviço prestado, a Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier entende estar ciente de seu objetivo principal, percebendo o produto final de seu trabalho como sendo a transformação da qualidade de vida do sujeito em recuperação, tanto na dimensão subjetiva de cada caso atendido, quanto social e ampla.
O serviço oferecido faz-se munido de expectativas e investimentos em torno de contribuir para a melhoria significativa da dependência de substâncias psicoativas, alcançando no residente a estabilidade de vida e, na sociedade, a prevenção. Deste modo a Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier se propõe no aperfeiçoamento diário, refletindo-se na busca incessante pela capacitação continuada de sua equipe técnica, melhorias em seu espaço físico, sendo este sadio e harmonioso para o acolhimento com vigilância e a manutenção da qualidade do programa terapêutico.
Quanto ao acompanhamento à família, este é um fator de suma relevância para a comunidade e o residente. Na atuação com vistas à transformação da qualidade de vida do sujeito, parte da recuperação está alicerçada na busca por construir e retomar vínculos anteriormente fragilizados. Essa estratégia de fortalecimento acontece de maneira diversa a cada situação e tem o acompanhamento/apoio em especial da equipe de profissionais do Serviço Social da comunidade, com aparatos instrumentais e metodológicos.
4. MECANISMOS DE GARANTIA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS E FAMILIARES
4.1 Consentimento informado
Existe uma acolhida inicial, na qual ocorre o diálogo, a aproximação com a realidade daquele dependente e, por conseguinte, a materialização do contrato de prestação de serviços, onde se inclui o consentimento informado, que vem a ser toda a orientação, desde a forma de tratamento, passando por normas internas, até critérios a serem seguidos em caso de desistência.
A Comunidade Terapêutica tem consciência de que a doença da adicção tem causas múltiplas (biológicas, psicológicas, econômicas, históricas e sociais) e que surge de problemas emocionais (medo, ansiedade, etc.), por crescer em um ambiente hostil (famílias desintegradas, círculo de amigos usuários de SPAs), agravando-se no consumo ocasional e depois sistemático de alguma droga leve (maconha) e depois outra pesada (crack, heroína, cocaína) e no último estágio desencadeando no cérebro novos padrões de prazer, que só a droga pode oferecer.
Numa situação tão familiar à juventude brasileira, não bastaria reprimir isoladamente uma dessas causas com remédio (a causa biológica), com psicoterapia ou somente farmacologia (as causas psicológicas) ou com apoio moral (as razões sociais e ambientais). Experiências mostram que se não forem tratadas as razões mais profundas, a dependência acabará voltando, pois se trata de uma doença, revelando-se preconceituosa a idéia de que alguém “se torna dependente porque quer” ou de que “não se cura porque não quer”.
Essa doença se manifesta na perda do controle pelo usuário de todos os seus atos e de sua capacidade de decisão. É uma doença crônica e pode exigir “tratamentos longos”, cuidados pelo “resto da vida” e, eventualmente, podem haver períodos de recaída, cuja gravidade depende do acerto com que o problema foi atacado, pois as doenças crônicas não são curadas, mas mantidas sob controle.
É imprescindível que a família tenha consciência de que “cada caso é um caso” e, em situações muito parecidas, a solução que serve para um dependente não serve para outro, e é por isso que há tantas e tão variadas formas de enfrentá-las. A participação pessoal do dependente é absolutamente indispensável para qualquer progresso no tratamento, sendo na maioria dos casos a mais importante, assim como seu consentimento é parte constituinte da qualidade do tratamento, a perceber que o problema não será resolvido pelos outros, sentindo assim o apoio de familiares e amigos.
Portanto, o consentimento informado tanto na desistência quanto na adesão é complexo, mais que um mero documento.
5. PROGRAMA DE ATENÇÃO
5.1 Concepção teórica e técnica
Considerando a idéia de que a doença da adicção tem causas múltiplas, tanto biológicas, quanto psicológicas e sociais, trabalha-se com uma concepção teórica voltada à compreensão do sujeito em sua globalidade, tanto no que tange a seus aspectos físicos quanto emocionais, bem como à qualidade de pertencimento e de suas relações sociais.
A teoria e o fazer definem a metodologia. Então, não basta querer auxiliar, mas compreender e fazer com que compreendam, tanto adictos quanto família e sociedade, o universo da correlação de forças que a dependência química e etílica envolve.
Na Comunidade, parte-se de uma concepção de que o poder não se centra em um só, não se baseia em uma idéia narcisística. Trata-se, pois, não de um campo de concentração, tampouco de um espaço onde há vítimas e algozes. A Comunidade, com seus monitores e coordenadores, por antes vivenciarem experiências aproximadas, por toda a qualificação e todo o investimento profissional, pelo ousar teórico e prático, constitui-se em uma unidade de tratamento não somente ao adicto, mas à família, e propicia o cuidado mútuo entre membros da equipe.
A Comunidade Terapêutica terá a seguinte metodologia consistindo nos diversos tipos de técnicas terapêuticas de Grupo, quais sejam:
- GRUPO DOS 12 PASSOS;
– GRUPO DE AMOR-EXIGENTE;
– GRUPO DE SENTIMENTOS;
– GRUPO DE CONFRONTO;
– GRUPO DE SEMINÁRIO;
– GRUPO DE SOCIOTERAPIA;
– GRUPO DE ESPIRITUALIDADE;
– GRUPO DE LABORTERAPIA;
– GRUPO DE MEDITAÇÃO E RELAXAMENTO.
O Grupo de Socioterapia inclui as atividades de lazer, esporte, recreação, artesanato, oficinas e limpeza.
O Grupo de Laborterapia inclui as atividades de campo, lavoura, horta, cuidado com os animais, cozinha, jardinagem e outras: Essas atividades obedecem a um planejamento prévio de rodízio com tempo e horário delimitados e todos os residentes devem passar por todo o tipo de atividade.
As atividades de planejamento e avaliação serão trabalhadas nos grupos de seminário.
Da disciplina faz parte o rigoroso cumprimento de horário, das atividades propostas, da higiene pessoal e ambiental.
Na prática, o tratamento ao dependente químico e/ou etílico se divide em etapas, somando um tempo de nove meses de tratamento, quais sejam:
a) Adaptação e Desintoxicação (00 a 03 meses):
Período de extrema importância e uma das fases mais delicadas do programa. A adaptação é lenta, com períodos difíceis de SA (síndrome de abstinência). Alguns residentes sentem fortes dores de cabeça, sudorese, muita sede, pesadelos, pirose, medo, insegurança, gula e etc. Sabe-se que a expressão do recém-chegado é vulgar, com muitos palavrões e gírias em excesso, além da baixa estima adquirida com a dependência. É um trabalho delicado, lento e gradual, vivenciando em grupo orientado por monitores e coordenadores e aplicação da metodologia do amor exigente a espiritualidade e a retomada de hábitos saudáveis da vida como: sono, disciplina, higiene e alimentação equilibrada.
Aqui, inicia-se a redescoberta de valores, adaptando-se ao programa e desintoxicando através da laborterapia, com seminários e temáticas sobre a doença em diversos pontos.
b) Conscientização e Interiorização (03 a 06 meses): Adaptados às normas de moradia, percebem-se as primeiras mudanças nos residentes. Apesar de se conscientizarem da gravidade e extensão de sua problemática, intensifica-se o aprofundamento da espiritualidade. Começa a mudança de caráter, aprofundamento da convivência em grupo, aceitação de si e dos outros. A busca do seu eu mais profundo, a consciência crítica, o equilíbrio, a autoestima, a opção de vida na busca da sanidade.
Melhoria a cada dia nas atividades do programa (integração). Desenvolve-se a criatividade, o trabalho de equipe, esportes e a participação no dia a dia. O residente se conscientiza de seu alcance e limites, liberta-se das culpas, aprende a se perdoar e o desafio de estar, por si mesmo, buscando a sua sanidade.
A partir daí, prepara-se para suas saídas de sete dias no 6º mês, dando início à ressocialização.
c) Ressocialização e Reinserção Social (06 a 09 meses): A volta ao convívio social causa muitas dúvidas, até porque é absolutamente impossível afirmar-se que, ao final da programação, o residente esteja curado. Porém, em sua reintegração social nas saídas do 6, 7º, 8º meses, ele irá identificar as dificuldades de sua adaptação à nova vida.
Conhecendo as ferramentas necessárias para manter-se abstêmio, ele começa a auxiliar os recém-chegados, fazendo brotar a verdadeira auto-estima e avaliando os conceitos até ali adquiridos.
Em suas saídas, praticam a participação em grupos de auto-ajuda na frequência da programação “Só por hoje”, reforçando o tripé de espiritualidade, trabalho e disciplina, e trabalhando o 8º, 9º, 10º, 11º e 12º passos, além do passo do mês.
Preocupada com a possibilidade de desistência e recaídas, a Comunidade orientará seus residentes nesta fase com forte trabalho de prevenção da recaída, com material didático e orientação. Muitos, chegando ao término dos nove meses, notarão a necessidade de permanecerem mais tempo no programa. Alguns ficarão como estagiários para auxiliar outros adictos em recuperação.
5.2 Critérios de acesso ao tratamento
O adicto que solicitar vaga à Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier, por meio de convênios com a Prefeitura Municipal de São Borja, deverá passar pelos critérios de elegibilidade no CAPSad deste município. Deste modo, se faz necessário que juntamente com o encaminhamento deste convênio, que seja disponibilizado junto a área técnica da CT (Serviço Social e Psicologia) o prontuário de acompanhamento deste residente para que, deste modo, contribua na construção de um tratamento adequado, levando em consideração sua historicidade, para que se estabeleça a elaboração de estratégias que levem este residente à superação de sua problemática.
Para que se estabeleça um critério de elegibilidade, o CAPSad deverá levar em consideração o item 3 do regulamento técnico estadual (Portaria nº430/2008) para o funcionamento dos serviços de atenção à dependentes de substâncias psicoativas – comunidades terapêuticas, norteando-se pelas cinco dimensões que embasam a intervenção psicossocial, quais sejam: a adesão/resistência ao tratamento; a manutenção/resistência à continuidade do tratamento; a situação sociofamiliar e legal; o comprometimento psíquico do residente e o comprometimento biomédico/clínico.
5.3 Condições de alta (e procedimentos do serviço)
Quanto às condições de alta, considerando o programa de atenção em sua concepção teórica e técnica, conforme as etapas do tratamento elucidadas no item 5.1, a “alta” acontece no término dos nove meses, podendo em alguns casos acontecer a orientação para que o residente permaneça um tempo maior, a fim de reforçar seu tratamento e sair da comunidade de fato seguro sobre a estabilidade da doença.
Todas as intervenções na comunidade e externamente na rede de pertencimento do adicto contribuem para que este alcance uma forma alternativa de reorganização pessoal (no sentido amplo), com novos padrões de pensamento e comportamento, ou seja, um novo estilo de vida. “Sabe-se que não é tarefa fácil recuperar um dependente de substâncias psicoativas. O processo de recuperação é longo e intenso, isto não significa que é impossível.”
Pesquisas são unânimes em afirmar que para estacionar a doença da adicção é somente quando o dependente resolver, por si só, procurar o tratamento. Acrescentaríamos que, além disso, é preciso dar tempo para que este se reorganize em uma nova vida, na qual crer levianamente na estabilidade definitiva é incorrer em riscos. Existem alguns aspectos importantes e que devem ser levados em conta. Para obter êxito, é necessário que o indivíduo modifique completamente seu comportamento em relação ao uso de drogas.
Nesse caso, procura-se fazer com que no término do tratamento o adicto tenha se familiarizado com todas as informações relativas aos malefícios advindos do uso e abuso de drogas. É uma fase de conscientização que poderá levar a uma escolha inteligente. E a condição de alta favorável é aquela em que existe essa tomada de consciência já estabelecida. Daí a necessidade de um retiro, um afastamento de suas funções rotineiras. Por tal razão, o trabalho desenvolvido na Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier, este renascer de nove meses procurará alcançar bons resultados, levando em consideração que poderão ocorrer evasões e desistências, o que é normal enquanto direito de liberdade de cada residente.
Toda e qualquer alternativa para estacionar a doença não vai muito longe se o indivíduo continuar frequentando os mesmos ambientes que frequentava antes de adquirir o hábito. Encontrando-se com as mesmas pessoas, nos mesmos locais em que praticava o consumo, ele acabará, mais cedo ou mais tarde, recaindo, ainda que por um lapso. Dessa forma, as condições de alta também apontam/exigem esta segurança de que o adicto poderá conviver no meio social, selecionando qualitativamente suas relações a partir do momento em que volta a participar ativamente da vida social externa. Acredita-se que a probabilidade de reincidir no tratamento torna-se mais evidente ao término de um programa de recuperação não planejado. Por isso, a importância da continuidade da frequência nos grupos de auto ajuda e o acompanhamento das entidades existentes na rede.
6. Meta de recuperação:
Possuímos como meta, a recuperação do maior número possível de dependentes químicos que busquem tratamento na Comunidade Terapêutica e mantenham-se abstinentes pelo maior período possível. Estima-se que no estado do RS, a recuperação desta problemática gira em torno de 20% nos diversos níveis de atenção para a adicção. Deste modo, estipular números neste processo é muito delicado, pois os seres humanos são singulares e cada um compreende uma mesma situação de forma diferenciada, desta forma não há ainda como mensurar tal processo, porém nos comprometemos em realizar estudos, pesquisas, avaliações deste método (Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier) para que possamos futuramente fundamentar tais metas, no intuito de qualificar nossos serviços.
7. Área física :
Dispomos de uma área de seis hectares o qual se desenvolvem as atividades de laborterapia , jogos recreativos e espaços de lazer e descanso. A estrutura física foi projetada de acordo com as normas da ANVISA RDC nº101/2001, porém com muitas melhorias, tais como:
§ Quartos projetados para 4 residentes cada, totalizando 10 quartos, todos com ventiladores de teto, janelas amplas e guarda roupas embutidos.
§ Os banheiros foram construídos de acordo com o mais alto padrão de acesso e higiene, assim como um destes espaços foram projetados para receber portadores de necessidades especiais com ampla acessibilidade.
§ A cozinha foi projetada para ser profissionalizante, dispondo de fornos, fogões e de todo o material necessário para implementar cursos de panificação, confeitaria, culinária dentre outros.
§ Possuímos um ampla sala de reuniões aos residentes, com datashow, DVD e TV LCD de 32 polegadas.
§ O refeitório assim como a sala de reuniões já estão projetados para futuras ampliações, deste modo comportariam até 80 residentes.
§ Neste momento esta sendo desenvolvido o plantio de 200 mudas de arvores frutíferas, para contribuir com a autosustentabilidade projetada futuramente.
Esta proposta de autosustentabilidade é uma meta a ser atingida em médio longo prazo. Pois no resgate de valores é proposto que os residentes possam ter contato com a natureza e descubram seus potenciais em transformá-la a fim de aprenderem a valor à dimensão teleológica que lhes é de direito.
8. MODALIDADE DA ATENÇÃO
8.1 Atendimento individual
a) Psicoterápico/Psicológico: Semanalmente, o setor de Psicologia realiza atendimento aos residentes, considerando prioridade para atendimento individual os casos mais prementes, em especial os casos em que se aproxima a alta do tratamento ou o ingresso do mesmo na Comunidade. Também existem casos em que se mantém atendimento mais frequente quando observada a necessidade.
b) Atendimento Social: O Serviço Social desenvolve trabalho intensivo de atendimento junto à comunidade terapêutica, onde se percebe que existe uma demanda significativa de trabalho tendo em vista a sustentação do tratamento também ser em parte vinculada a construções socioafetivas. Intervém tanto com familiares quanto com grupos, e também em atendimentos individuais constantes, onde se verificam demandas particulares a cada residente e busca-se articular espaços e agentes facilitadores no processo de recuperação, da mesma forma , realiza projetos de captação de recursos, formação de parcerias para a realização de cursos de capacitação os quais possibilitem a realização de geração de trabalho e renda para os residentes preparando-os para o retorno ao convívio social no pós tratamento.
c) Orientação Individual/ Feedback: A orientação individualizada acontece constantemente, por considerar que todas as intervenções de diferentes áreas voltam-se ao cuidado do residente na qualidade do tratamento. Em especial, os monitores possuem o papel constante de orientar de forma individualizada os residentes de seus respectivos setores mantendo, na coletividade do grupo, um olhar singular a cada sujeito.
8.2 Atendimento grupal
a) Grupo psicoterápico: O setor de Psicologia realiza trabalho em grupo semanalmente com residentes, juntamente com o coordenador de tratamento e monitores. Esses grupos visam a troca de experiências e a abordagem com a utilização de temáticas. Dessa forma, somam-se experiências e mantém-se o cunho profissional.
b) Grupos operativos: Os grupos operativos são executados pelo coordenador de tratamento, bem como pelo Serviço Social, pois compreende-se grupo operativo aquele exercício de manter coeso o grupo e associar atividades práticas. Com o Serviço Social os grupos são realizados quinzenalmente, intercalando com o grupo realizado com o coordenador terapêutico, sendo que são trabalhadas temáticas que se associam a fim de manter uma coerência no programa. Os grupos que envolvem o Serviço Social são realizados conforme os setores, atingindo todo o público.
c) Grupo terapêutico e de reflexão: Todos os atendimentos possuem em si um aspecto terapêutico na comunidade, ao passo que se tem em primeira instância a recuperação.
Todavia, o grupo com residentes que passaram por vivências de recaídas, independentemente do período de tratamento, pode-se considerar que tem exclusivamente esse aspecto terapêutico e reflexivo, voltado a um olhar minucioso, uma vez que reúne um espaço de maior cuidado entre sujeitos que passaram por tal vivência, tornando-se um espaço de cuidado individualizado, mútuo e preventivo. Torna-se com isso um espaço de reflexão, de estudo acerca dessas vivências desfavoráveis que contribuem para a utilização de novas formas de intervir e prevenir a recaída e antecipar outros casos.
d) Atividades socioterápicas: Conforme escala de serviços por setores orientadas pelos monitores terapêuticos, temos atividades cotidianas que associam o labor com a recuperação. Em suma, o tratamento constitui-se desde seu início pela sucessiva intervenção em diferentes espaços, onde o residente tem experiências, de diversas formas de fazer, e diversifica assim a rotina de seu tratamento. As atividades voltadas a compreender a dimensão social do sujeito e estas intervenções ocorrem tanto interna quanto externamente, sendo que as atividades externas na comunidade são de acordo com a evolução do tratamento de cada residente.
O acompanhamento do residente junto ao projeto de reinserção social envolve o serviço voluntário à Comunidade, sendo que as atividades internas e externas de laborterapia são acompanhadas por monitores e constantemente avaliadas pelo coordenador terapêutico e equipe. A proposta de reinserção social não possui como foco principal a recondução e a formação em aspectos formais e de trabalho na vida do sujeito, mas sim, de dimensões socioemocionais e afetivas, que possibilitam amadurecimento e construção de vivências saudáveis na comunidade e inclusive de perspectiva de vida e de atuação.
As oficinas socioterápicas são realizadas com todos os residentes a partir da laborterapia e de grupos de orientação, associadas a atividades práticas com conteúdos temáticos em pauta, conforme cronograma. Além disso, propomos a participação de residentes na comunidade e da comunidade na instituição, quando profissionais da área ou de matérias afins contribuem internamente com palestras, oficinas e atividades que somam no tratamento.
8.3 Atendimento à família
A família do residente é atendida em especial pelo Serviço Social, mas também pela equipe de coordenadores. Não existe um cronograma de atendimentos estabelecido, uma vez que semanalmente as intervenções do Serviço Social demandam que determinada família seja atendida ou visitada. Muitas vezes essa forma de atendimento requer tempo, pois muitos dos residentes possuem resistências ou, ao contrário, a resistência se coloca por parte da família. Trata-se de um trabalho importante, uma vez que a rede familiar é um dos eixos de sustentação do tratamento, sendo o resgate de vínculos e a conscientização da família de suma importância para a efetiva qualidade do tratamento.
Por se tratar de diferentes modalidades, muitas famílias também são atendidas em municípios de origem, ocorrendo a troca de informações. Para casos de residentes que moram no município-sede, ocorrem visitas domiciliares devido à facilidade geográfica. Para residentes de municípios distanciados, em se tratando de residentes mantidos por convênios, em geral o atendimento à família pela rede de apoio acaba ocorrendo no momento do encaminhamento. Porém, em muitos casos, somam-se a essas intervenções externas intervenções no espaço da comunidade. Em geral, as famílias, quando procuradas e solicitadas, comparecem a atendimentos e a partir disso nota-se a evolução no tratamento.
8.4 Atividades comunitárias e visitas domiciliares de reinserção social
A Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier se propõe a participar de um vasto leque de atividades comunitárias, prestando auxílio em eventos sociais e contribuindo com a prestação de serviços à comunidade, até mesmo como forma de complementar recursos para a qualidade do atendimento. Atividades comunitárias são parte da laborterapia e não encontram resistência pelos residentes que, em geral, apresentam satisfação e retorno positivo no tratamento quando inseridos em atividades nas quais se sintam valorizados.
Quanto às visitas dos residentes, no sexto mês de tratamento estes passam a realizar visitas a suas famílias, sendo que esse estágio é acompanhado pela equipe, intensificando-se o acompanhamento também à família para o feedback desse processo de reinserção, que emerge na preparação para uma vida fora da comunidade.
9. REGISTRO ÚNICO E SISTEMÁTICO
Todos os profissionais possuem acesso ao plano terapêutico individual, sendo que o prontuário do residente possui registros sistemáticos da evolução do tratamento. Os profissionais são orientados pelo registro feito no prontuário para a continuidade e planejamento de ações no tratamento do residente.
10. POLÍTICA DE CUIDAR DOS CUIDADORES
A Comunidade Terapêutica Espírita Chico Xavier possui instituída a formação continuada de sua equipe de trabalho, em especial de monitores e coordenadores no aperfeiçoamento constante quanto à matéria e técnicas relacionadas ao tratamento da dependência química e melhores maneiras de abordagens.
Da mesma forma, no sentido de manter saudável a equipe de cuidadores, internamente vem instituindo-se a sistemática de reuniões de avaliação, planejamento e cuidado mútuo (Estratégia de fortalecimento da rede interna). Quinzenalmente, a equipe de profissionais reúne-se para discutir casos e também no sentido de proporcionar um pensar e uma escuta acerca do que representa o esforço de compreender o uso abusivo de drogas, que vai além dos problemas imediatos.
Essa tarefa de sentar e cuidar-se mutuamente vai além do papel da Comunidade de atender a seus residentes e familiares, mas de estar com sua equipe saudável para intervir da forma mais eficaz. A finalidade do cuidado mútuo é ultrapassar as explicações unidimensionais encontradas na literatura específica que trata do assunto, para analisar o “porquê” da dependência e inclusive entre sujeitos pertencentes à equipe, que nesta troca saudável de experiências acabam por construir formas mais eficazes de intervenção.
A Espiritualidade é oferecida de forma a propor o auto-conhecimento do sujeito, a valorização de todas as religiões sem imposição de culto ou crença (o residente participa de forma voluntária).
PORTARIA Nº 430/2008 – RS – trata da regulamentação do funcionamento de Serviços de Atenção a Dependentes de Substâncias Psicoativas e suas considerações e do REGULAMENTO TÉCNICO ESTADUAL PARA O FUNCIONAMENTO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO A DEPENDENTES DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS – COMUNIDADES TERAPÊUTICAS.
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